A
religião sempre foi acompanhada de pompas, vestes, composturas e
ritos, e ainda hoje é assim. Quem não põe sua melhor roupa, e não
usa seu melhor perfume antes de sair de casa para participar de seu
culto religioso? Quem não cumprimenta o próximo com a devida
saudação “A PAZ DO SENHOR, IRMÃO”? Assim foi e assim tem sido
em todo ambiente religioso. Os clérigos com suas pompas, suas
vestimentas destacadas, a gravata do pastor, a saia longa da obreira,
o coque da irmã.
Na
verdade somos herdeiros das religiões antigas, o sacerdócio hebreu,
com seus mantos de linho azul, seus turbantes e ornamentos, suas
mitras, suas práticas de sacrifícios, rituais litúrgicos,
convocações solenes, orações e jejuns. Tudo como fruto de uma
simbologia de adoração ao Deus Santo e Justo, cuja presença
abomina a impureza e o mal. Cuja presença percebia-se preciosa, como
as pedras engastadas no peitoril. Adoração a Deus que provia as
necessidades, mas que para lembrar a possibilidade de escassez
oferecia-se os jejuns.
Assim
também procederam os fariseus, os saduceus, os essênios, seitas de
práticas religiosas contemporâneas de Jesus, que por símbolo
representavam sua tristeza, sua santidade, seu legado. Porém tais
práticas levam a caminhos escuros, tais rituais insinuam uma raça
especial, uma categoria superior, uma santidade mais elevada, se me
permitem a redundância.
A
Didaquê, documento mais antigo do cristianismo, fora da Bíblia, faz
uma recomendação com base em uma referência específica, que o
crente devia jejuar em dias diferentes dos hipócritas (judeus),
Didaquê cap. VIII. Não estariam assim entrando também em um
caminho de hipocrisia?
Decerto
que, se nos dirigimos a um lugar que exija solenidade, não podemos
nos apresentar de qualquer maneira, como se diz, “diante do juiz,
não pode apresentar-se mal vestido”. Mas até onde vai o limite da
compostura? Então não teria acesso ao juiz aquela viúva pobre? Não
creio que ela tivesse uma bela roupa, sendo o juiz tão impiedoso…
Somos
todos hipócritas quando julgamos nossa espiritualidade maior que a
do outro, quando achamos que nossas práticas nos justificam mais que
a dos outros, quando deliramos pensando que nosso grupo religioso é
mais correto que o do outro, quando dizemos que lemos mais a Bíblia,
quando propagamos que oramos de madrugada, ou quando convocamos
nossos jejuns ou convidamos “visitantes” para nossas celebrações
cíclicas e engordamos nosso orgulho contemplando nossos salões
lotados ou nosso público exuberante.
Não
consigo ver Jesus em palanques refrigerados, com roupas de grife,
proferindo um sermão como o do Monte, a um grupo de pessoas
refinadas, bem vestidas e perfumadas em poltronas de primeira linha,
com som ambiente, suave e harmônico, harpejado por levitas
profissionais e um coro “celestial”. Vejo Jesus à beira do
caminho, ou sentado na grama, com pessoas simples, crianças
remelentas, pobres trabalhadores fedidos e Ele, sorrindo e dizendo -
“Não sejam como os hipócritas”.
Meu irmão, isso obrigatoriamente nos remete a uma profunda reflexão acerca dessa religiosidade comentada. A título de acréscimo bem-humorado, neste mergulho na imaginação, fico materializando Jesus vindo buscar Sua noiva ADORNADA com joias brilhantes e outros afins. Rsrs...
ResponderExcluirO evangelho de Cristo é simples; nossa religiosidade que é vaidosa.
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