Fui pastor ordenado
conforme o sistema religioso de uma denominação evangélica tradicional. Desde
sempre questionava dentro de mim determinadas ordenanças compartilhadas em
nosso meio, como por exemplo, a “fidelidade na entrega dos dízimos” com suas
consequentes bênçãos, a filiação obrigatória a uma igreja denominacional, caso
contrário não seria possível considerar-se “crente” e, consequentemente, salvo,
a frequência regular ao culto dominical, entre outras coisas que fazem parte do
espectro sagrado cristão.
Hoje, livre das amarras
da religião institucional, sinto-me a vontade para falar de coisas que se fazem
necessárias, e que todos precisamos e devemos saber. Não falo o que falo para
que as pessoas abandonem as instituições religiosas, mas para que aquelas que
têm uma experiência com Jesus, mas não fazem parte de um sistema religioso, não
se sintam perdidas nem sozinhas. E também para que não sejam facilmente
enganadas por qualquer um que as queiram arrebanhar para que façam parte de seus
números também.
O assunto que trago agora
é bastante delicado e sei que talvez ofenda a alguns, mas preciso trazê-lo. Ser
pastor é bíblico ou não? Vi muitos crentes usando as palavras de Davi em
relação ao pastor moderno que não se deve tocar no ungido do Senhor (1 Sm 26.
9-11; Sl 105. 15), porém, no Velho Testamento, Ungido é o Rei. Da mesma forma
quando se usa a palavra pastor ou pastores se refere aos reis de Israel, exceto
no Salmo 23 em que o Pastor é o Senhor de Davi, que também está declarando que
o SENHOR (Deus) é o seu Rei.
A palavra pastor também é
usada profusamente, tanto no Velho quanto no Novo Testamento para dar
significado a um serviçal que cuidava de rebanhos que não lhes pertenciam, algo
já abordado na postagem anterior. Portanto, pastor era um servidor que tomava
conta de pequenos rebanhos, geralmente não mais que 30 ovelhas e que, se fosse
muito bom, o Senhor o colocava a cargo de outros rebanhos e ainda que, caso chegasse à
conta de uma centena tinha por direito a posse de uma das ovelhas de seus
rebanhos, mas se perdesse uma por qualquer motivo, teria perdido aquela que
contava como sua. Coisa que não se pode aplicar a quem se denomina pastor nos
termos modernos, pois todos concordamos que as ovelhas do rebanho de Deus
(igreja) pertencem única e exclusivamente a um único Pastor (Ec 12. 11; Jo 10.
10; 1 Pe 2. 25).
Fora dos Evangelhos, o
termo pastor aparece três vezes em apenas dois textos bíblicos e, só se refere
a um líder espiritual no livro de Hebreus (Hb 13. 7 e 17) a outra passagem se
refere ao próprio Senhor (1 Pe 2. 25), as outras palavras usadas pela teologia
moderna para dar sentido ao pastor de nossos dias são ancião (ou presbítero –
transliteração do termo grego que tem como significado pessoa idônea,
experiente, ou de idade a que se deva respeito) e bispo, que é uma latinização
do grego “epíscopos” que significa supervisor ou cuidador.
De nenhuma forma vemos
nos textos do Novo Testamento a designação de um líder único na igreja local, são
diversos presbíteros ou diversos bispos em cada igreja local (At 11. 30; 14.
23; 20. 17; I Pe 5. 1 e outros), nem mesmo que sejam remunerados (At 20. 33; 1
Co 9. 14-18; 11. 1; Fp 3. 17). Na verdade a igreja tem um só Líder, o único Senhor
(Ef 4. 5), o único Cabeça da igreja (Ef 5. 23).
Conforme a leitura de
Efésios capítulo 4, o exercício pastoral nada mais é do que o exercício de um dom
espiritual tal como o apostolado, a evangelização, a profecia e o ensino, não
são cargos, mas ofícios, não vêm de formação acadêmica, mas por dom do Espírito
Santo, ou seja, qualquer que Deus assim designar exercerá o ofício pastoral sem
necessidade de cursos em seminários teológicos, ou qualquer outra instituição
de ensino, da mesma forma não pode nem deve exigir qualquer compensação pelo
exercício do dom, muito pelo contrário, deve devolver sempre mais do que
recebeu (Mt 25. 20).
O pastor moderno não é
bíblico, pois inibe o sacerdócio universal, o acesso direto a Deus e suas
bênçãos, torna-se um intermediário em pé de igualdade com o padre católico ou
os fariseus e sacerdotes da religião judaica dos tempos de Jesus, um mero
sacerdote, algo já abolido pela Nova Aliança. Muitas vezes, sabendo ou não, são
lobos cruéis (At 20. 29), mercenários (Jo 10. 12), falsos mestres de palavras
fingidas (2 Pe 2. 1-3). Outras vezes até são pessoas bem intencionadas, mas que
carecem de conhecer plenamente a Palavra de Deus, pois enxergam a fé com os
óculos da religião.