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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Tábula Rasa

O que significa ensinar? Ensinar significa pôr uma marca, assinalar, em seu sentido original. Pode-se entender que quem ensina transpõe uma marca que já possui, pois foi marcado por alguém. Estaria certo John Locke? São todos uma “tábula rasa” que vão sendo marcados no decorrer da grande experiência que é a vida?
Salomão deixou a instrução: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, até quando envelhecer, não se desviará dele”. Ocorrem então algumas questões; andaríamos nós naquilo em que fomos ensinados? Será correto o caminho que nos foi ensinado? Entendemos corretamente o que nos foi ensinado? E, por fim, o que é realmente importante, o objeto de ensino ou o objeto do ensino? Pra ser mais claro; o que se ensina, ou a quem se ensina?
A primeira questão a ser respondida é se seguimos os conselhos de nossos pais. Minha mãe me disse muitas vezes: “faz o que eu falo, mas não faz o que eu faço”. É claro que isso é um contrassenso, acredita-se que o melhor mestre é o exemplo. Nós não ouvimos nossos pais, nós os imitamos. Nós comemos o que eles comem, bebemos o que eles bebem, usamos as palavras que eles usam… E se aprendemos coisas diferentes como os colegas de escola e da vizinhança, eles aprenderam com seus pais.
Quanto àqueles que ocupavam a cátedra do ensino da Ética Divina e dos procedimentos morais da Palavra Sagrada, Jesus disse: “Pratiquem os seus ensinamentos, mas não sigam o seu exemplo pois eles não fazem o que ensinam”. Há aqui um claro contrassenso, como é isso Jesus? Como não podemos seguir o exemplo de nossos líderes eclesiásticos? - Não pode! Eles são como sua mãe, só que ela é mais sincera – Na verdade, não aprendemos o que está no quadro-negro, mas o que está impresso na vida de nossos mestres.
A segunda questão é se o que está sendo ensinado é certo. Creio que cada sociedade tem a sua verdade. E, como a sociedade atual é complexa, há diversas micro sociedades em cada ambiente social e, cada uma com a sua micro verdade. Há a verdade adventista, a russellita, há a verdade pentecostal, a verdade batista, a verdade católica, a muçulmana, a ateísta, cada um com seu “céu”, seu “paraíso”, sua justiça. Há muitas verdades em nossa sociedade poli-fraturada.
Jesus diz: “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida”. Só que muitos de nós nos fazemos donos do caminho, da verdade e da vida, como se fôssemos seus proprietários intelectuais, portadores de suas patentes quando deveríamos ser somente seus buscadores. Em outra ocasião Jesus diz: “vocês examinam as Escrituras porque buscam nela o benefício da vida eterna, mas são elas que ensinam a Meu respeito”. Busquemos a Verdade, mesmo que ela não nos beneficie.
O terceiro ponto é sobre quem regula quem. O objeto de ensino é meu para que o interprete ao meu bel-prazer? Eu regulo a verdade ou é ela que me regula? A verdade tem sido como uma borracha limpa-tipos, que o desenhista molda em suas mãos para implementar seus artifícios artísticos. Somos todos relativistas, cada um moldando a sua própria verdade.
Devíamos retornar aos princípios platônicos, e entender que nossa interpretação da realidade não passa de sombras daquilo que realmente É. Precisamos nos permitir ser moldados pelos princípios daquele que é Eterno, do que “vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”.
E, por fim, o que importa, o que se ensina ou a quem se ensina? Na verdade aqui o foco é o que realmente não é importante. Me desculpem os mestres, me desculpem os pais, sejamos humildes em admitir, os que ensinamos somos os menos importantes. Não haveria valor algum se não houvesse o que ensinar e mais ainda se não houvesse a quem ensinar.
O objeto de ensino é o norte, o objetivo, a Verdade. O objetivo do ensino é o propósito, é o fio condutor, sem ele a energia não passa adiante. Jesus é o norte, é o ensino, é “a pedra principal, eleita e preciosa e” nós somos “o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido para anunciar (passar adiante) as Virtudes Daquele que nos iluminou”.
Tornemo-nos tábulas rasas que seja impresso em nós “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor (…) O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”.

Textos bíblicos usados livremente:

1 – Provérbios 22.6
2 – Mateus 23.1-3
3 – João 14.6
4 – João 5.39
5 – Tiago 1.17
6 – 2 Pedro 2.6-8
7 – Filipenses 4.8