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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Será que somos gratos?


Após assistir a um vídeo do neurocientista Pedro Calabrez sobre gratidão (link no final do texto) fiquei bastante contemplativo, o assunto colou em minha mente de tal forma que não consigo pensar em outra coisa desde então. Tenho pensado em todos os tipos de gratidão que podem haver no meio do povo de Deus e, até mesmo, em sua ausência, e quais os efeitos disso em nossas vidas.
Segundo o citado neurocientista existem três tipos de gratidão, a gratidão automática, a gratidão passiva e a gratidão ativa. A primeira refere-se as nossas formas corriqueiras de se expressar, seja em nossas interlocuções interpessoais diárias ao vivo ou online, como “tá bom”, “tá ok”, “legal” ou “obrigado”. A segunda trata-se de quando acontece algo especial, como o nascimento de um filho ou neto, a conquista de um emprego, uma promoção ou algo semelhante, coisa que não acontecem com frequência. Já a terceira forma de gratidão é característica de quem busca reconhecer as coisas boas que acontecem cotidianamente, tomando consciência de que há sempre um bom motivo de gratidão, ainda que simples, apesar de todos os males que nos advêm.
Creio que em nosso caso o assunto não é tão simples. Pois numa breve reflexão detectei mais dois tipos que a neurociência não relacionou. A falsa gratidão e a falta de gratidão, que não podem de forma alguma deixarem de ser abordadas quando tratamos de assunto tão importante.
Qualquer leitor da Palavra de Deus perceberá a importância de se ter um espírito grato. "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." (1 Tessalonicenses 5:18). Parece-me que, apesar das janelas dos céus estarem abertas sobre as nossas vidas repletas de bênçãos (Efésios 1:3), jamais as aproveitaremos plenamente se não entendermos o significado de gratidão. Aliás qualquer dicionário expressará muito pouco de seu significado, nem pretendo, neste texto, apontar uma resposta plena a tão grande questão.
A primeira questão é se a gratidão pode ser classificada como um sentimento, creio que em parte sim, mas não exclusivamente. Nada na vida do crente deve limitar-se a um simples sentimento. Crente não vive de sentimentos, nossa vida não deve ser contemplativa, deve ser uma vida de atitude, assim como nossa gratidão, se não a expressarmos de alguma forma ela não será plena. Não como os três valentes de Davi, em 2 Samuel 23:15-17, que, de forma inapropriada, buscaram honrar o seu rei através de uma atitude imprudente. Mas em Lucas 17:12-19 há um relato interessante, dez leprosos são curados por Jesus, sendo que apenas um retorna para agradecê-lO. O samaritano voltou e, assim, foi abençoado com algo maior que a cura de sua lepra, alcançou a graça da Salvação por meio da Fé.
O segundo ponto é se a gratidão pode ser ignorada. Nada na vida deve ser ignorado. Cada experiência, cada atitude a nosso favor, ou mesmo contra nós, cada evento em nossas vidas tem o seu devido valor e por isso deve ser reconhecido aliás, gratidão resume-se a isto, reconhecimento de valor. Voltando ao texto de Lucas 17, nove dos que foram curados foram incapazes de valorar a cura que receberam, preferiram estribar-se no cumprimento da Lei, pois segundo esta, o sacerdote era aquele que os declararia oficialmente curados e, diferente do samaritano, não experimentaram a graça salvadora.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a falsa gratidão. É o que acontece quando alguém dá mais valor a si próprio que àquele que o favoreceu. Observe o seguinte texto: "O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18:11-12). Quem está sendo honrado nesta oração? O Deus a quem ele dá graças, ou o fariseu por suas “qualidades” e “dons”? Quantas vezes você deu graças a Deus por ser Cristão, ou por ser casado, ou solteiro, ou por trabalhar em tal lugar, em detrimento a alguém que estivesse em situação diferente ou “inferior” à sua?
O ponto central de uma vida de gratidão está na direção desta. Existem três direções possíveis, vertical, horizontal ou interior (para dentro). Não preciso dizer que a terceira opção é a escolha egoísta do fariseu do parágrafo anterior e que nem precisamos considerar. A primeira é vertical, em direção a Deus, "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (I Tessalonicenses 5:18). Ele é o Criador, o Doador da Vida, que tudo faz em nosso benefício, "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8 : 28). A segunda é horizontal, em direção ao próximo, "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Romanos 12 : 10), e "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?" (I João 4 : 20). Na maior parte das vezes não temos como expressar a gratidão como atitude a Deus mas, quando atribuirmos valor ao próximo estamos fazendo a Deus também.
Uma vida de gratidão é uma vida de valor, de qualidade, bem vivida, melhora não apenas a sua vida, mas a vida daqueles que vivem ao seu redor. Encontre diariamente motivos para ser grato, seja grato a Deus, expresse sua gratidão a quem Deus tem usado para abençoá-lo. Quero repassar-lhe o desafio das três bênçãos, de Pedro Calabrez, no final de cada dia anote três motivos de gratidão, não precisa ser algo grande, você verá que coisa boas acontecem todo dia, escreva em um caderno, escreva ao lado porque aquilo é uma bênção, caso seja uma atitude de alguém, escreva porque você acha que a pessoa fez aquilo por você, escreva com suas próprias mãos, não use meios eletrônicos, isso fará uma grande diferença. Faça esse desafio por, pelo menos trina dias e veja a diferença que isto fará a você.
Quero agradecer ao neurocientista Pedro Calabrez que me fez refletir em todas estas coisas, quero agradecer também ao meu irmão e amigo Renato Pompei que muito contribuiu com esta reflexão e a Deus por mais esta oportunidade de contribuir para que outros reflitam sobre assunto tão importante.
Link do vídeo: