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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Igreja Hedonista


Você se lembra porque procurou a igreja? Você ou alguém que você ama estava muito doente, perdeu alguém muito próximo, precisava salvar o casamento, estava com dificuldades de arrumar emprego ou em grande dificuldade financeira. Talvez estivesse solitário, em estado depressivo, precisando de amigos, infeliz no trabalho, ou mesmo buscando o sentido da vida. Você foi ao local certo, à igreja. Pois foi lá que lhe ofereceram a cura das enfermidades, a alegria do espírito, a restauração conjugal, a prosperidade…
E lá você tem encontrado momentos de alegria de festa, grupos alegres a cantar e tocar instrumentos, pastores eloquentes a fortalecer o seu ego, jogando você pra cima, dando propósito e sentido para sua vida. Lá você tem encontrado oferta de programas diversos, ministérios específicos, alguns dos quais você pode até ser líder, algo que fora dela você não teria a menor chance… Você está bem suprido na sua igreja, farto, saciado. Nada lhe falta.
Tudo isso significa sucesso espiritual, certo? Não creio. Uma expressão na Bíblia tem em si o significado de sucesso espiritual, é a expressão “bem aventurado” que, por vezes, equivocadamente é traduzido também por “feliz” ou “muito feliz”, mas traz em si, dos originais, o sentido de “bem sucedido”, que avança na caminhada, como o exército que avança no campo de batalha. E esta expressão não tem ligação com aquilo que entendemos de sucesso no mundo em que vivemos, principalmente nas Palavras de nosso Mestre, Jesus.
No Sermão do Monte, Jesus aponta o caminho do sucesso espiritual. Bem aventurados os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que tem fome e sede de justiça, os que sofrem perseguição, que são injuriados e caluniados (Mateus 5. 1-12), e Jesus conclui da seguinte forma: “Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus”, a recompensa nem é aqui, é nos céus. Em outro lugar Jesus diz assim, “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (João 16.33), não devemos desanimar com os problemas e dificuldades pelas quais passamos pois Ele passou pior por nós, sem contar que alguns de nossos sofrimentos são consequências de nossos próprios erros.
Então o que a igreja deveria oferecer? Refúgio. O juízo se aproxima, a condenação é certa, a igreja deve ser o refúgio. Como a Arca no dilúvio, a tempestade angustiante bateu por 40 dias, com certeza a chuva não era música para os ouvidos, o pavor dos animais e, até mesmo das pessoas que ali estavam não era colírio para os olhos, mas ali houve refúgio, salvação do Juízo Divino.
A igreja deveria ser local de choro e lamento, choro pelos nossos entes queridos que ainda rejeitam a mensagem de salvação, lamento pelos nossos amigos que desprezam a Palavra de Deus, e por todos os que ignoram o Juízo, pois ele vem. A igreja deve apontar em apenas duas direções, ao Deus Justo e Juiz e ao Cristo Amoroso e Redentor. Ao homem nada mais resta senão morrer, morrer pelos seus pecados herdando a condenação eterna (Apocalipse 20.12-15), ou morrer para os seus pecados, herdando assim a Vida Eterna (João 3.16-18, Romanos 6.23).

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O primeiro Jejum


Em outra ocasião eu havia dito que o primeiro a jejuar teria sido Moisés, conforme o relato bíblico (ver A Origem da prática do Jejum). Meditando sobre outros assuntos cheguei a uma conclusão diferente, o que será abordado mais à frente. Porém quero começar relatando que encontrei em uma de minhas buscas um documento orientando a como começar o seu jejum, sim, um guia detalhado para que você possa praticar o seu jejum de forma correta e alcançar os resultados esperados. Assunto controverso o do jejum porém, creio que não faz de ninguém mais santo, ou que confira algum tipo de crescimento espiritual, mas que tem o seu momento e impacto na vida do crente.
Na era antediluviana não há menção de práticas religiosas como as conhecemos hoje, nem mesmo algumas práticas mencionadas mesmo por Moisés, como sacrifícios, edificação de altares, ou de locais de reunião sacerdotal, o que mais se aproxima disso é a menção em Gênesis 4. 26b que diz: “então se começou a invocar o nome do SENHOR”, o que muitos acreditam tratar do início de um culto a Deus, com prática do sacerdócio familiar, e que, a família de Enos, seus descendentes seriam os “filhos de Deus” citados no capítulo 6 deste mesmo livro.
Conforme as conclusões acima Noé teria sido o primeiro pregador, e de uma mensagem apocalíptica (2Pe 2.5). Noé cuidou de sua família, ainda que a Bíblia não mencione, ele por certo convenceu sua família em relação ao que tinha recebido de Deus. Ele tinha palavras difíceis de se crer, não passariam 120 anos sem que toda a humanidade fosse subvertida por um dilúvio e, que eles deveriam construir uma obra gigantesca que os resguardasse e também a uma boa parte da criação (animais que têm em si o fôlego de vida, Gn 7.15, segundo Adauto Lourenço, que respiram pelas narinas). Noé era então como um pastor naquela igreja familiar e simples.
Creio que, até o momento de entrar na Arca, Noé sentia-se seguro e confiante que aquele que achou graça aos Seus olhos, o guardava, pois o havia dado forças para suportar o trabalho árduo, as chacotas dos incrédulos, a zombaria dos infiéis e, até mesmo, os momentos de dúvidas daqueles que estavam aos seus cuidados. Porém, a partir do momento que entra na Arca, e esta é selada por fora, e começa a chover como nunca antes havia chovido, não consigo imaginar um Noé tranquilo.
Quem já morou em uma casa de telha de amianto fina que, tarde da noite, ao cair da tempestade, o barulho incessante na cabeça, as panelas espalhadas a colher goteiras, o pano na porta pra não entrar a água, que tenha conseguido dormir tranquilo? Noé e sua família nunca tinham visto chuva igual, dava pra ouvi-la no topo da Arca, dava pra sentir o balanço e agitação das águas, a agonia dos animais, e isto por 40 dias. Creio que, ao menos por estes 40 dias, humanamente apavorado, Noé orava e suplicava a Deus pelos que estavam sob sua responsabilidade e pela sua própria vida, pois o que via era resultado de um Deus decepcionado com uma humanidade má e perversa. Não vejo Noé preocupado com comida por todos os dias de chuva, mas orando a Deus, cuidando de sua esposa, de seus filhos e tentando de alguma forma acalmar os animais inquietos.
Depois, por 11 meses e 20 dias, houve descanso. Noé descansou da construção da Arca, descansou de sofrer os infiéis e incrédulos, descansou das dúvidas da esposa e dos filhos, descansou dos animais que, agora, hibernavam em sua maioria. Comeu, bebeu e celebrou a Redenção. Ao sair da Arca constrói o primeiro altar, aqui sim iniciando o culto patriarcal, seguido por Abraão e seus descendentes. Portanto, Noé foi o primeiro a jejuar.