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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Da Simbologia à Hipocrisia



A religião sempre foi acompanhada de pompas, vestes, composturas e ritos, e ainda hoje é assim. Quem não põe sua melhor roupa, e não usa seu melhor perfume antes de sair de casa para participar de seu culto religioso? Quem não cumprimenta o próximo com a devida saudação “A PAZ DO SENHOR, IRMÃO”? Assim foi e assim tem sido em todo ambiente religioso. Os clérigos com suas pompas, suas vestimentas destacadas, a gravata do pastor, a saia longa da obreira, o coque da irmã.

Na verdade somos herdeiros das religiões antigas, o sacerdócio hebreu, com seus mantos de linho azul, seus turbantes e ornamentos, suas mitras, suas práticas de sacrifícios, rituais litúrgicos, convocações solenes, orações e jejuns. Tudo como fruto de uma simbologia de adoração ao Deus Santo e Justo, cuja presença abomina a impureza e o mal. Cuja presença percebia-se preciosa, como as pedras engastadas no peitoril. Adoração a Deus que provia as necessidades, mas que para lembrar a possibilidade de escassez oferecia-se os jejuns.

Assim também procederam os fariseus, os saduceus, os essênios, seitas de práticas religiosas contemporâneas de Jesus, que por símbolo representavam sua tristeza, sua santidade, seu legado. Porém tais práticas levam a caminhos escuros, tais rituais insinuam uma raça especial, uma categoria superior, uma santidade mais elevada, se me permitem a redundância.

A Didaquê, documento mais antigo do cristianismo, fora da Bíblia, faz uma recomendação com base em uma referência específica, que o crente devia jejuar em dias diferentes dos hipócritas (judeus), Didaquê cap. VIII. Não estariam assim entrando também em um caminho de hipocrisia?

Decerto que, se nos dirigimos a um lugar que exija solenidade, não podemos nos apresentar de qualquer maneira, como se diz, “diante do juiz, não pode apresentar-se mal vestido”. Mas até onde vai o limite da compostura? Então não teria acesso ao juiz aquela viúva pobre? Não creio que ela tivesse uma bela roupa, sendo o juiz tão impiedoso…

Somos todos hipócritas quando julgamos nossa espiritualidade maior que a do outro, quando achamos que nossas práticas nos justificam mais que a dos outros, quando deliramos pensando que nosso grupo religioso é mais correto que o do outro, quando dizemos que lemos mais a Bíblia, quando propagamos que oramos de madrugada, ou quando convocamos nossos jejuns ou convidamos “visitantes” para nossas celebrações cíclicas e engordamos nosso orgulho contemplando nossos salões lotados ou nosso público exuberante.

Não consigo ver Jesus em palanques refrigerados, com roupas de grife, proferindo um sermão como o do Monte, a um grupo de pessoas refinadas, bem vestidas e perfumadas em poltronas de primeira linha, com som ambiente, suave e harmônico, harpejado por levitas profissionais e um coro “celestial”. Vejo Jesus à beira do caminho, ou sentado na grama, com pessoas simples, crianças remelentas, pobres trabalhadores fedidos e Ele, sorrindo e dizendo - “Não sejam como os hipócritas”.