Não tem como ser crente sem ser
membro de uma igreja. Este é um pensamento comum e aparentemente
inquestionável. Porém há algum tempo tem surgido grupos cristãos
que tem sido denominados de “desigrejados”, pessoas que se
recusam a participar de uma instituição religiosa dizendo não ser
tal prática necessária a quem deseja ter um relacionamento com
Deus.
Será isto verdade? Será que para ser
um filho de Deus temos de estar afiliados a uma denominação cristã?
Temos uma cultura cristã milenar com práticas estabelecidas,
nascemos num ambiente em que, para nos denominarmos cristãos
precisamos nos enquadrar em práticas e costumes, como por exemplo,
ser batizado, frequentar uma igreja, participar de cultos solenes, de
celebrações de comunhão, partir do pão e participar do cálice,
entre tantos outros.
A Bíblia, mais especificamente as
Escrituras Cristãs, o Novo Testamento e todo o embasamento das
Escrituras Hebraicas, ou Velho Testamento são (devem ser) o único
fundamento da prática de vida cristã. Ela norteia a Fé. As
Escrituras Hebraicas nortearam a vida religiosa a partir do
Tabernáculo, do Sacerdócio e do Sacrifício, Tabernáculo
substituído posteriormente pelo Templo de Jerusalém, símbolo da
presença de Deus na terra, sede da religião Israelita e da Judaica
dos tempos de Cristo.
O tabernáculo / templo foi o local de
propagação dos mandamentos divinos e da fé, de consulta a Deus e
de sacrifício pelos pecados, considerado casa de Deus, porém foi
perdendo importância em função da hipocrisia praticada em seu
interior, “assim diz o SENHOR: o céu é o meu trono, e a terra o
escabelo dos meus pés; que casa me edificaríeis vós? E qual seria
o lugar do meu descanso? Porque a minha mão fez todas estas coisas,
e assim todas elas foram feitas, diz o SENHOR: mas para esse olharei,
para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra.
Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica
um cordeiro é como o que degola um cão; quem oferece uma oblação
é como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso em
memorial é como o que bendiz a um ídolo; também estes escolhem os
seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas
abominações.”, Isaías 66.1-3.
Claro que para o homem o templo sempre
teve importância, e sempre terá, pois este é uma instituição que
exige uma hierarquia, o sacerdote, o levita, o clero, o líder
religioso. Creio que por esta razão, ao ser lembrado da imponência
do símbolo da religião judaica, Jesus sentenciou que ali não
ficaria “pedra sobre pedra”, Mateus 24.1-2, e Jesus completa:
“que não seja derrubada”, significando que aquilo era uma
estrutura falida, incapaz de levar alguém verdadeiramente à
presença de Deus.
Muitos acham que encontram adoração
nos templos, na verdade o que se encontra ali é teatro, exibição e
controle. Raros são os momentos de comunhão genuína, de auxílio
espiritual, de apoio ao necessitado, de amparo aos famintos e
doentes. E quando parece que esses assuntos são importantes, são
seguidos de pedidos vultuosos de dízimos e ofertas. Aliás, parece
que Deus é tão pobre, precisa tanto de dinheiro, que isto se torna
o assunto mais importante numa reunião eclesiástica.
Outra nota importante que Jesus nos
deixa a respeito do assunto é quando ele responte a samaritana,
dizendo que não era no templo de Samaria nem no de Jerusalém o
local de adoração, mas no espírito, “pois importa que os que
adoram a Deus o adorem em espírito e em verdade”, João 4.23-24.
Nada poderia ser mais claro que esta declaração, aqui o templo
deixa de ser o centro de adoração, deixa de ser a referência. Os
apóstolos completam nos ensinando que não precisamos mais de
mediadores, que todos somos sacerdócio real, que não precisamos que
ninguém nos ensine, pois a Unção nos ensina, 1 Timóteo 2.5, 1
Pedro 2.9, 1 João 2.27.
O problema de fato não é que se
possa adorar no templo (igreja), é que só se possa adorar no
templo, não é verdade. Uma reunião familiar representa mais a
igreja de Jesus do que um templo repleto de gente. Uma dúzia de
pessoas reunidas, que se conhecem pelo nome, que se ajudam, que riem
e que choram juntos, que comem juntos, que amparam aquele que for
necessitado, estão mais próximos dos propósitos do Mestre do que
um grupo de centenas, ou até milhares de pessoas, que não conhecem
aquele que está ao lado, que ignoram seus problemas, que se alegram
na banda musical e que choram com a eloquência do pregador.
“Porque assim diz o Alto e o
Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e
santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de
espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar
o coração dos contritos”. Isaías 57.15.