O que significa ensinar? Ensinar
significa pôr uma marca, assinalar, em seu sentido original. Pode-se
entender que quem ensina transpõe uma marca que já possui, pois foi
marcado por alguém. Estaria certo John Locke? São todos uma “tábula
rasa” que vão sendo marcados no decorrer da grande experiência
que é a vida?
Salomão
deixou a instrução: “Ensina a criança no caminho em que deve
andar e, até quando envelhecer, não se desviará dele”. Ocorrem
então algumas questões; andaríamos nós naquilo em que fomos
ensinados? Será correto o caminho que nos foi ensinado? Entendemos
corretamente o que nos foi ensinado? E, por fim, o que é realmente
importante, o objeto de ensino ou o objeto do ensino? Pra ser mais
claro; o que se ensina, ou a quem se ensina?
A
primeira questão a ser respondida é se seguimos os conselhos de
nossos pais. Minha mãe me disse muitas vezes: “faz o que eu falo,
mas não faz o que eu faço”. É claro que isso é um contrassenso,
acredita-se que o melhor mestre é o exemplo. Nós não ouvimos
nossos pais, nós os imitamos. Nós comemos o que eles comem, bebemos
o que eles bebem, usamos as palavras que eles usam… E se aprendemos
coisas diferentes como os colegas de escola e da vizinhança, eles
aprenderam com seus pais.
Quanto
àqueles que ocupavam a cátedra do ensino da Ética Divina e dos
procedimentos morais da Palavra Sagrada, Jesus disse: “Pratiquem os
seus ensinamentos, mas não sigam o seu exemplo pois eles não fazem
o que ensinam”. Há aqui um claro contrassenso, como é isso Jesus?
Como não podemos seguir o exemplo de nossos líderes eclesiásticos?
- Não pode! Eles são como sua mãe, só que ela é mais sincera –
Na verdade, não aprendemos o que está no quadro-negro, mas o que
está impresso na vida de nossos mestres.
A
segunda questão é se o que está sendo ensinado é certo. Creio que
cada sociedade tem a sua verdade. E, como a sociedade atual é
complexa, há diversas micro sociedades em cada ambiente social e,
cada uma com a sua micro verdade. Há a verdade adventista, a
russellita, há a verdade pentecostal, a verdade batista, a verdade
católica, a muçulmana, a ateísta, cada um com seu “céu”, seu
“paraíso”, sua justiça. Há muitas verdades em nossa sociedade
poli-fraturada.
Jesus
diz: “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida”. Só que muitos de
nós nos fazemos donos do caminho, da verdade e da vida, como se
fôssemos seus proprietários intelectuais, portadores de suas
patentes quando deveríamos ser somente seus buscadores. Em outra
ocasião Jesus diz: “vocês examinam as Escrituras porque buscam
nela o benefício da vida eterna, mas são elas que ensinam a Meu
respeito”. Busquemos a Verdade, mesmo que ela não nos beneficie.
O
terceiro ponto é sobre quem regula quem. O objeto de ensino é meu
para que o interprete ao meu bel-prazer? Eu regulo a verdade ou é
ela que me regula? A verdade tem sido como uma borracha limpa-tipos,
que o desenhista molda em suas mãos para implementar seus artifícios
artísticos. Somos todos relativistas, cada um moldando a sua própria
verdade.
Devíamos
retornar aos princípios platônicos, e entender que nossa
interpretação da realidade não passa de sombras daquilo que
realmente É. Precisamos nos permitir ser moldados pelos princípios
daquele que é Eterno, do que “vem do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”.
E,
por fim, o que importa, o que se ensina ou a quem se ensina? Na
verdade aqui o foco é o que realmente não é importante. Me
desculpem os mestres, me desculpem os pais, sejamos humildes em
admitir, os que ensinamos somos os menos importantes. Não haveria
valor algum se não houvesse o que ensinar e mais ainda se não
houvesse a quem ensinar.
O
objeto de ensino é o norte, o objetivo, a Verdade. O objetivo do
ensino é o propósito, é o fio condutor, sem ele a energia não
passa adiante. Jesus é o norte, é o ensino, é “a pedra
principal, eleita e preciosa e” nós somos “o sacerdócio real, a
nação santa, o povo adquirido para anunciar (passar adiante) as
Virtudes Daquele que nos iluminou”.
Tornemo-nos
tábulas rasas que seja impresso em nós “tudo o que é verdadeiro,
tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo
o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e
se há algum louvor (…) O que também aprendestes, e recebestes, e
ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será
convosco”.
Textos
bíblicos usados livremente:
1
– Provérbios 22.6
2
– Mateus 23.1-3
3
– João 14.6
4
– João 5.39
5
– Tiago 1.17
6
– 2 Pedro 2.6-8
7
– Filipenses 4.8