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terça-feira, 25 de agosto de 2020

Como me Tornei um Herege

 Antes de mais nada quero lembrar que o Mestre Jesus foi chamado de comilão e beberrão, e até de endemoniado. E quem assim O chamava eram os religiosos mais nobres contemporâneos do Senhor. Eu também fui religioso, também censurei aqueles que pensavam diferente de mim.

Mas o que significa Heresia? Biblicamente falando, significa discordância, divisão, tomar partido diferente. Já nos dias de hoje heresia é algo mais sério, significa uma doutrina adversa, avessa à doutrina Cristã. Este termo é relacionado a textos como 2 Pedro 2.18; 1 Timóteo 1.19-20; 2.17-18. Em 2 Pedro 2.1 Pedro faz uma distinção e chama de “heresias de perdição” o que nos dá a entender que nem toda “heresia” (divisão, discordância) era de perdição.


(A Forquilha do Herege. Fonte: http://www.museudainquisicao.org.br/acervo/forquilha-do-herege/)

Não, eu não criei nenhuma nova doutrina ou doutrina estranha ao Evangelho. Porém há aqueles que tem me visto como um herege por discordar de alguns ensinamentos comuns à cultura cristã dos dias atuais. Evitam-me claramente como se eu fosse Himeneu ou Diótrefes, quero portanto aqui discorrer como me tornei um herege para estes.

Primeiro – Abri mão do ministério. O ministério da cultura cristã atual consiste em títulos e autoridade. O ministro é um ente superior, altamente dotado e capacitado que, quando em exercício se põe em pedestal ou altar para que se notifique sua evidência sobre os demais. Tem que ser mais santo, mais perfeito, tem que ser impecável, trajar-se de forma característica. Jesus disse que somos todos iguais e só a um devemos chamar de Rabi, Pai ou Mestre (Mateus 23.8-12).

De forma alguma abrirei mão daquilo que Deus preparou para mim, sei que sou chamado, como são todos os servos de Cristo, pois Ele nos dá dons para que possamos exercer o real ministério, como serviçais, como escravos mesmo de Cristo e de sua obra.

Segundo – Parei de dar o dízimo. As Escrituras Cristãs (Novo Testamento) em nenhum lugar ensina a prática do dízimo moderno. Nenhum apóstolo fez menção de uma prática de contribuição regular. Contribuições foram dadas voluntariamente para amparo de pobres, órfãos e viúvas. Em algumas situações foram solicitadas contribuições para os pobres, porém ninguém foi constrangido a contribuir (2 Coríntios 9.7).

O dízimo hebreu tinha como objetivo fornecer víveres e sustento àqueles que não podiam possuir terra para plantar e colher e tinham ofício exclusivo do Tabernáculo e posteriormente do Templo, este era ofertado com as primícias das colheitas e dos animais, caso a família tivesse que viajar muito para chegar ao local da oferta (Templo/Tabernáculo) ela vendia o dízimo, tomava o dinheiro na mão e, quando chegasse, comprava víveres e bebidas conforme desejasse o seu coração e então ofertava, aliás o ofertante comia o dízimo junto com o sacerdote e o levita.

Caso não pudesse ir ao local de culto, o dízimo era compartilhado com o levita, com o pobre, com o órfão, com a viúva e com o necessitado (Deuteronômio 14.22-29).

Terceiro – Parei de ir à igreja. Sim, parei de ir a igreja porque esta não é a casa de Deus, como entendem a maioria dos cristãos. No passado, o Templo (de Jerusalém) era o local considerado como santo, onde habitava a presença de Deus. Cristo inaugurou um novo Templo, Deus agora habita em nós, Paulo ensina que é o nosso corpo o Santuário do Espírito Santo (1 Coríntios 6.19), nós os que compartilhamos da Fé em Jesus, somos a Casa de Deus, não precisamos de um local santo, a Igreja do Senhor não pode ser limitadas por paredes.

Aliás a Igreja não necessita de uma denominação, Ela é o Corpo de Cristo, a Noiva do Senhor Jesus. Igreja somos nós quando reunidos em Nome dEle, exercemos nossos dons e edificamos uns aos outros, praticamos o amor fraternal, comemos juntos e cuidamos uns dos outros e, unidos em Cristo, pregamos o Evangelho da Salvação a todos os que necessitam ouvi-lo.

Foi assim que me tornei um herege aos olhos dos doutores da Fé. Da mesma maneira que Jesus ao contrariar os Escribas e Fariseus, da mesma maneira que Paulo ao confrontar os mestres das Sinagogas, aos líderes Judeus e até a Corte Romana. Desta maneira "Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses 3.14).

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Deus de perto ou Deus de longe

 

Meu pai tinha um crucifixo. Acho que de prata, bem pequeno. Certa vez ele me mostrou aquele crucifixo e disse: “este é Deus, ele criou todas as coisas”. Eu devia ter entre seis e sete anos, mas nunca me esqueci daquilo. Não ousava retrucar meu pai a respeito, mas lembro que muitas vezes em minha vida pensei que era impossível que aquele pedaço de metal, tão pequeno, pudesse fazer tanta coisa.

Hoje sinto que meu pai queria acreditar naquilo, pois a cultura em que viveu assim acreditava. Era uma forma de ter Deus à mão. O homem sempre quis ter Deus à sua mão, pois Este sempre o pareceu muito distante. Deus está nos céus, nas alturas, no trono Divino. Sua justiça e santidade sempre pareceu a este inalcançável, por isso porque não trazê-lo para mais perto?

Quando alguém pediu uma definição Ele disse: “Eu Sou o que Sou”. Difícil tentar explicar o “Eu Sou”. Mais ainda, difícil entender. Por que não encontrar outras maneiras de defini-lO, ou melhor, de trazer a ideia de Deus ao nível humano. Por isso que o israelita antigo adotou “Baal”. Baal que dizer “Senhor”, em princípio entidade humana superior, revestida de autoridade mas acessível.

Então eles puderam definir Baal, dar forma, esculpi-lo com as próprias mãos, determinar sua autoridade, seu poder. Estabelecer suas oferendas, o que ele aceita ou rejeita, o que ele gosta ou não gosta. Baal é maleável como o barro moldado pelo oleiro. Então deus torna-se uma criatura moldada pelo homem e assim o homem trás Deus pra perto de si.

Este tipo de deus é bem interessante, pois ele se parece muito com o homem, pois por ele foi feito, à sua imagem e semelhança, veja os deuses do Olimpo, beberrões, difamadores, traiçoeiros, adúlteros, fornicadores, sedentos por poder, mais humanos impossível.

Mas esta não é a única maneira que o homem trata do assunto Divindade. Há aqueles que colocam Deus em um altar tão elevado que é quase impossível de alcançar. Quase é a palavra-chave, pois se o homem alcançar um nível de santidade, de sabedoria, de conhecimento, de prática religiosa, poderá experimentar um estado de proximidade, até mesmo de representatividade.

Estes conclamam a práticas, ao exercício, à frequência, à membresia, à instituição do refúgio religioso, construindo apriscos denominacionais, onde as pessoas sentem-se resguardadas, mais próximas do deus distante. Elevadas ao nível Divino.

Ledo engano, o homem não tem em si mesmo a mínima capacidade de se aproximar de Deus. Segundo as Escrituras o homem está “destituído da Glória de Deus”. Confeccionar um deus substituto não resolve o problema, nem se refugiar em práticas religiosas. Ainda que seja desesperador, não temos como alterar o caminho que a distância de Deus traça pra nós.

Por esta razão Jesus veio até nós, se Ele não tivesse vindo ainda estaríamos sem direção, andando no escuro com bússola quebrada num céu sem estrelas. Foi Ele que se aproximou de nós, “Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Por amor, por Graça e por Misericórdia, Ele resolveu salvar os Seus, aqueles que “ouvem a sua voz” e que O seguem, resgatados pela Fé que é dada por Ele.

Não adianta moldar Deus para Ele se adequar a você, nem tentar viver uma vida tão santa achando que vai alcançar o Divino. O que adianta mesmo é estar com ouvido e coração abertos para, quando Ele te chamar, você possa prontamente dizer - “Eis-me aqui”. Todas as outras coisas deixa por conta dEle.