Em
outra ocasião eu havia dito que o primeiro a jejuar teria sido
Moisés, conforme o relato bíblico (ver A Origem da prática do
Jejum). Meditando sobre outros assuntos cheguei a uma conclusão
diferente, o que será abordado mais à frente. Porém quero começar
relatando que encontrei em uma de minhas buscas um documento
orientando a como começar o seu jejum, sim, um guia detalhado para
que você possa praticar o seu jejum de forma correta e alcançar os
resultados esperados. Assunto controverso o do jejum porém, creio
que não faz de ninguém mais santo, ou que confira algum tipo de
crescimento espiritual, mas que tem o seu momento e impacto na vida
do crente.
Na
era antediluviana não há menção de práticas religiosas como as
conhecemos hoje, nem mesmo algumas práticas mencionadas mesmo por
Moisés, como sacrifícios, edificação de altares, ou de locais de
reunião sacerdotal, o que mais se aproxima disso é a menção em
Gênesis 4. 26b que diz: “então se começou a invocar o nome do
SENHOR”, o que muitos acreditam tratar do início de um culto a
Deus, com prática do sacerdócio familiar, e que, a família de
Enos, seus descendentes seriam os “filhos de Deus” citados no
capítulo 6 deste mesmo livro.
Conforme
as conclusões acima Noé teria sido o primeiro pregador, e de uma
mensagem apocalíptica (2Pe 2.5). Noé cuidou de sua família, ainda
que a Bíblia não mencione, ele por certo convenceu sua família em
relação ao que tinha recebido de Deus. Ele tinha palavras difíceis
de se crer, não passariam 120 anos sem que toda a humanidade fosse
subvertida por um dilúvio e, que eles deveriam construir uma obra
gigantesca que os resguardasse e também a uma boa parte da criação
(animais que têm em si o fôlego de vida, Gn 7.15, segundo Adauto
Lourenço, que respiram pelas narinas). Noé era então como um
pastor naquela igreja familiar e simples.
Creio
que, até o momento de entrar na Arca, Noé sentia-se seguro e
confiante que aquele que achou graça aos Seus olhos, o guardava,
pois o havia dado forças para suportar o trabalho árduo, as
chacotas dos incrédulos, a zombaria dos infiéis e, até mesmo, os
momentos de dúvidas daqueles que estavam aos seus cuidados. Porém,
a partir do momento que entra na Arca, e esta é selada por fora, e
começa a chover como nunca antes havia chovido, não consigo
imaginar um Noé tranquilo.
Quem
já morou em uma casa de telha de amianto fina que, tarde da noite,
ao cair da tempestade, o barulho incessante na cabeça, as panelas
espalhadas a colher goteiras, o pano na porta pra não entrar a água,
que tenha conseguido dormir tranquilo? Noé e sua família nunca
tinham visto chuva igual, dava pra ouvi-la no topo da Arca, dava pra
sentir o balanço e agitação das águas, a agonia dos animais, e
isto por 40 dias. Creio que, ao menos por estes 40 dias, humanamente
apavorado, Noé orava e suplicava a Deus pelos que estavam sob sua
responsabilidade e pela sua própria vida, pois o que via era
resultado de um Deus decepcionado com uma humanidade má e perversa.
Não vejo Noé preocupado com comida por todos os dias de chuva, mas
orando a Deus, cuidando de sua esposa, de seus filhos e tentando de
alguma forma acalmar os animais inquietos.
Depois,
por 11 meses e 20 dias, houve descanso. Noé descansou da construção
da Arca, descansou de sofrer os infiéis e incrédulos, descansou das
dúvidas da esposa e dos filhos, descansou dos animais que, agora,
hibernavam em sua maioria. Comeu, bebeu e celebrou a Redenção. Ao
sair da Arca constrói o primeiro altar, aqui sim iniciando o culto
patriarcal, seguido por Abraão e seus descendentes. Portanto, Noé
foi o primeiro a jejuar.
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