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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Deus de perto ou Deus de longe

 

Meu pai tinha um crucifixo. Acho que de prata, bem pequeno. Certa vez ele me mostrou aquele crucifixo e disse: “este é Deus, ele criou todas as coisas”. Eu devia ter entre seis e sete anos, mas nunca me esqueci daquilo. Não ousava retrucar meu pai a respeito, mas lembro que muitas vezes em minha vida pensei que era impossível que aquele pedaço de metal, tão pequeno, pudesse fazer tanta coisa.

Hoje sinto que meu pai queria acreditar naquilo, pois a cultura em que viveu assim acreditava. Era uma forma de ter Deus à mão. O homem sempre quis ter Deus à sua mão, pois Este sempre o pareceu muito distante. Deus está nos céus, nas alturas, no trono Divino. Sua justiça e santidade sempre pareceu a este inalcançável, por isso porque não trazê-lo para mais perto?

Quando alguém pediu uma definição Ele disse: “Eu Sou o que Sou”. Difícil tentar explicar o “Eu Sou”. Mais ainda, difícil entender. Por que não encontrar outras maneiras de defini-lO, ou melhor, de trazer a ideia de Deus ao nível humano. Por isso que o israelita antigo adotou “Baal”. Baal que dizer “Senhor”, em princípio entidade humana superior, revestida de autoridade mas acessível.

Então eles puderam definir Baal, dar forma, esculpi-lo com as próprias mãos, determinar sua autoridade, seu poder. Estabelecer suas oferendas, o que ele aceita ou rejeita, o que ele gosta ou não gosta. Baal é maleável como o barro moldado pelo oleiro. Então deus torna-se uma criatura moldada pelo homem e assim o homem trás Deus pra perto de si.

Este tipo de deus é bem interessante, pois ele se parece muito com o homem, pois por ele foi feito, à sua imagem e semelhança, veja os deuses do Olimpo, beberrões, difamadores, traiçoeiros, adúlteros, fornicadores, sedentos por poder, mais humanos impossível.

Mas esta não é a única maneira que o homem trata do assunto Divindade. Há aqueles que colocam Deus em um altar tão elevado que é quase impossível de alcançar. Quase é a palavra-chave, pois se o homem alcançar um nível de santidade, de sabedoria, de conhecimento, de prática religiosa, poderá experimentar um estado de proximidade, até mesmo de representatividade.

Estes conclamam a práticas, ao exercício, à frequência, à membresia, à instituição do refúgio religioso, construindo apriscos denominacionais, onde as pessoas sentem-se resguardadas, mais próximas do deus distante. Elevadas ao nível Divino.

Ledo engano, o homem não tem em si mesmo a mínima capacidade de se aproximar de Deus. Segundo as Escrituras o homem está “destituído da Glória de Deus”. Confeccionar um deus substituto não resolve o problema, nem se refugiar em práticas religiosas. Ainda que seja desesperador, não temos como alterar o caminho que a distância de Deus traça pra nós.

Por esta razão Jesus veio até nós, se Ele não tivesse vindo ainda estaríamos sem direção, andando no escuro com bússola quebrada num céu sem estrelas. Foi Ele que se aproximou de nós, “Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Por amor, por Graça e por Misericórdia, Ele resolveu salvar os Seus, aqueles que “ouvem a sua voz” e que O seguem, resgatados pela Fé que é dada por Ele.

Não adianta moldar Deus para Ele se adequar a você, nem tentar viver uma vida tão santa achando que vai alcançar o Divino. O que adianta mesmo é estar com ouvido e coração abertos para, quando Ele te chamar, você possa prontamente dizer - “Eis-me aqui”. Todas as outras coisas deixa por conta dEle.

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